Tenho um segredo pra revelar sobre nós, mulheres modernas-independentes-solteiras: nós somos uma farsa. E das grandes.
Passamos
horas, dias e anos repetindo que "tudo bem" fazer tudo sozinha.
Cozinhar, lavar, passar, pagar contas e ainda achar um espaço nesse
corre-corre diário pra manicure. Ter o prazer de ler aquele bom livro ou
tomar aquela tão merecida cerveja também fazem parte do jogo. Do jogo
de ser uma mulher independente e moderna. Temos a habilidade de
metamorfosearmos em polvos quando vamos ao supermercado e carregamos 12
sacolas dos mais variados pesos. Trocamos lâmpadas queimadas e algumas,
pasmem, até ousam trocar magistralmente a resistência queimada do
chuveiro (sem queimar toda a fiação elétrica, I mean). Fazemos bolos e
sobremesas maravilhosas (como nossas avós e mães nos treinaram anos a
fio). Também sabemos falar de política, literatura, cinema, música e
estamos sempre ligadas nos acontecimentos mundiais e conectadas as redes
sociais.
O
problema disso tudo é que corremos tanto mas não sabemos bem onde
queremos chegar. Será que é um emprego melhor? Uma vida mais digna
economicamente? Mais sabedoria pra tocar a vida e não cometer aqueles
velhos erros mais uma vez? Estudar cada vez mais? Viagens pro exterior?
600 contatos no Facebook? O amor daquele cara, aquele mesmo, que parece
perfeito pra gente? No fundo, não sabemos nada.
No
fundo (bem lá no fundo) nos comportamos como criancas desprotegidas
ainda. E queríamos sim alguém que nos buscasse no final do expediente e
perguntasse como foi nosso dia. Alguém pra trocar as lâmpadas. Um pé pra
esquentar o nosso na cama quando faz muito frio lá fora. Dois braços a
mais pra ajudar com as compras. Aquela ajuda pra lavar os pratos que
ficam jogados esperando ansiosamente pela liberdade. Não é fácil, nós,
mulheres modernas, sabemos. Porque aparentamos algo que, no fundo,
sabemos que não somos. Nao me leve a mal, não somos mentirosas ou
falsas: apenas nos adaptamos ao molde. Somos independentes, fortes,
maduras e sabemos o que queremos SIM. Tivemos pais que nos criaram pro
mundo e não temos medo da vida. Enfrentamos. Mas também temos um
coração, por mais que ele fique de lado nessa correria toda. E toda vez
que ele é reativado, essas perspectivas vêm à tona.
Por
trás dessa fortaleza toda, sempre tem algo de frágil. Que não pode ser
mostrado. Que não deve ser revelado. E daí, me pergunto, se, como disse
John Donne, "Nenhum homem é uma ilha" porque nós, mulheres modernas
teríamos que ser??? Nao é errado precisar de alguém. Contar com alguém.
Dividir. Por mais que a gente saiba, quando deita a cabeça no
travesseiro, que a vida pode ser muito cruel. Até mesmo com os
bem-intencionados. Agora durma-se com um barulho desses (mas só lá no
fundo).
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